Chanceler de Bolsonaro retira do posto embaixador do Brasil nos EUA

Até que seja escolhido um novo nome para a embaixada brasileira em Washington, o número dois da missão, Fernando Pimentel, ficará como encarregado de negócios

BRASÍLIA — O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo , fez, nesta quarta-feira, a primeira mudança em um posto da diplomacia no exterior desde que assumiu o cargo, em 1º de janeiro deste ano. Portaria assinada por ele e publicada no Diário Oficial retira da embaixada brasileira nosEstados Unidos o embaixador Sergio Amaral . Embora aposentado do Itamaraty, Amaral foi transferido para a representação do ministério em São Paulo. Até que seja nomeado seu substituto, ficará à frente do posto, como encarregado de negócios, o número dois da embaixada, Fernando Pimentel.

Nascido em São Paulo e formado em Direito, Amaral serviu antes em Paris, Bonn e Genebra. Entre outras funções, foi negociador da dívida externa brasileira no Comitê de Credores e no Clube de Paris e porta-voz e ministro da Indústria e Comércio no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Já estava aposentado quando foi nomeado para a chefia da embaixada em Washington em 2016, no governo de Michel Temer, pelo então chanceler José Serra.

No mês passado, tanto Sergio Amaral como embaixadores de outros postos estratégicos para o Brasil foram criticados pelo presidente Jair Bolsonaro. Em um café da manhã com jornalistas, Bolsonaro se queixou de que era visto como racista e homofóbico no exterior porque sua imagem não era bem defendida pelos diplomatas brasileiros. O presidente anunciou que iria trocar os titulares de 15 embaixadas.

Dada a forte aproximação entre Bolsonaro e o presidente americano, Donald Trump, a Embaixada do Brasil em Washington passou a ser considerada a mais importante, hoje, no Itamaraty. De acordo com um experiente embaixador,  é um lugar de grande simbolismo, para onde iria Ernesto Araújo, caso ele não fosse escolhido chanceler.

Até recentemente, havia poucos nomes cotados para assumir a vaga deixada por Sergio Amaral. Como reflexo da polarização que existe hoje no governo Bolsonaro, os nomes que mais circulam são os de Nestor Forster, que já serve na embaixada nos EUA e integra o grupo dos olavistas — ligados ao ideólogo de direita Olavo de Carvalho —, e do cientista político e consultor Murillo de Aragão, que conta com o apoio de economistas e militares, mas não é diplomata de carreira como Forster.

Transição

Momentos antes de embarcar para o Brasil, ao fim de uma visita à Argentina, Araújo afirmou que ainda não há decisão sobre quem assumirá a embaixada brasileira em Washington. O chanceler ressaltou que não existe prazo específico para essa definição, mas que o governo vai “tentar definir logo”.

Araújo esclareceu que foi o próprio Sergio Amaral quem pediu que sua remoção para o Brasil fosse decidida logo, por uma questão familiar. O ministro elogiou a atuação de Amaral à frente da embaixada e atribuiu a ele o sucesso da visita do presidente Jair Bolsonaro aos EUA.

— Ele [Sergio Amaral] fez um trabalho excepcional nos EUA. O sucesso da visita do presidente se deve ao embaixador Sergio Amaral.

Pela legislação em vigor, Amaral terá 60 dias para voltar ao Brasil. Somente depois disso, Fernando Pimentel assumirá a chefia da missão nos EUA. Autoridades do Planalto e do Itamaraty garantiram que é absolutamente normal ter um período de transição com o encarregado de negócios — que costuma ser o número 2 da embaixada — à frente do posto no exterior.

Para a nomeação do novo embaixador, são necessário dois passos, na seguinte ordem: o agrément (consentimento de um Estado para que o diplomata estrangeiro assuma o posto) e, em seguida, a aprovação do escolhido pelo Congresso brasileiro. No agrément, é feita uma consulta secreta ao governo da nação de destino, para saber se o nome é ou não aceito. O processo é sigiloso, para deixar o outro país à vontade para negar a indicação, se for o caso.

A partir do momento em que nome indicado pelo presidente da República obtém o agrément, o futuro embaixador precisa se submeter a uma sabatina pelos senadores da Comissão de Relações Exteriores do Senado. O aval final é dado pelo plenário da Casa.

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