Análise: sob risco de demissão no São Paulo, Dorival não se ajuda

Aos 16 minutos do segundo tempo do empate por 0 a 0 com a Ferroviária, enquanto Valdívia balançava seus cachos para fora do campo, dando lugar a Nenê, a torcida do São Paulo martelava vaias e gritos de burro nos ouvidos de Dorival Júnior.

Era a segunda substituição do treinador na partida deste domingo, no Morumbi. Depois de trocar centroavante por centroavante, ele trocava meia por meia. Em um jogo em casa. Empatando. Praticamente não sendo atacado. Com dois volantes no time. Contra o lanterna do Grupo C do Paulistão.

Dorival Júnior cada vez mais pressionado no São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)

O comentarista da TV Globo na partida, Caio Ribeiro, foi certeiro quando afirmou, em tom quase resignado: “O Dorival não se ajuda”.

Pois é justamente isso. É cruel que o treinador que ajudou a evitar o rebaixamento do São Paulo no Brasileirão do ano passado seja fritado na precocidade de fevereiro. É visível que os jogadores têm enorme parcela de culpa no péssimo começo de ano do São Paulo – por repetidas falhas técnicas. É notório que o clube do Morumbi não é exatamente um símbolo de estabilidade para seus profissionais.

Mas Dorival não se ajuda.

Depois do jogo, o treinador argumentou que não havia razão para tirar um dos volantes do time (Hudson e Petros), porque eles estavam sendo úteis inclusive na frente. Na verdade, o raciocínio é outro: eles estavam sendo ativos na frente porque a Ferroviária, encaramujada na defesa, pouco os incomodava. O adversário só teve uma chance de gol em toda a partida.

A falta de ousadia do treinador irritou a torcida. Ela já carregava na memória a saída de Cueva contra o Santos – depois de o peruano participar de todas as jogadas de perigo da equipe no bom primeiro tempo do clássico.

Contra a Ferroviária, não é que Tréllez não deveria ter entrado: ele não deveria ter entrado no lugar de Diego Souza; e não é que Nenê não deveria ter entrado: ele não deveria ter entrado no lugar de Valdívia. Quando o São Paulo precisava de algo diferente, seu comandante ofereceu mais do mesmo.

As substituições são um detalhe, são um dos prismas para se analisar o São Paulo de 2018. Há outros. Na formação titular, Dorival fez quatro mudanças na comparação com a partida anterior – duas por necessidade (Jucilei, lesionado, e Reinaldo, suspenso, dando lugar a Hudson e Edimar) e duas por escolhas técnicas e táticas (Arboleda na zaga e Valdívia no meio, com Bruno Alves e Nenê no banco). Foram tentativas válidas.

Com Valdívia, a expectativa era de que o time ficasse mais rápido. Ele, de fato, é mais veloz que Nenê. Mas isso não se refletiu na prática do jogo. Por um motivo simples: o que torna uma equipe ágil não é o somatório da velocidade das pernas de seus jogadores; é, isso sim, a capacidade que um time tem de otimizar essa qualidade. O São Paulo não sabe como fazer.

Conforme os resultados ruins se acumulam, Dorival tateia em busca de soluções. A impressão que ele passa é de que perdeu a convicção sobre a melhor formação para sua equipe. E isso envolve mexer em jogadores como Nenê, que já foi para o banco, e Diego Souza, que começa a merecer o mesmo rumo. Seu rendimento como centroavante é medíocre – errou seis dos 15 passes que deu contra a Ferroviária (ou 40%).

A diretoria do São Paulo vai se reunir nesta segunda-feira. Dorival corre risco de queda – embora a tendência seja de permanência. Se cair, será cedo, será um atropelo. Não é hora para isso.

Mas a cada jogo, Dorival parece dar um pouco mais de argumentos para quem pede sua cabeça. Ele não se ajuda.

gloesportes.com

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